quinta-feira, 16 de maio de 2019

A música em Saramago por Jorge Vaz de Carvalho


Os Museus como Centros Culturais: o futuro da tradição foi a temática escolhida pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM) e que serviu de mote às várias iniciativas que os museus municipais promoveram, estimulando um ambiente de festa e comemoração, de convívio e partilha, de experiências e descoberta.
A par desta comemoração, a Noite Europeia dos Museus surgiu como mais uma oportunidade de visitar e desfrutar dos museus de Loures, em horas menos convencionais, mas não menos atrativas.
O programa das comemorações teve início no dia 16 de maio, no Palácio dos Arcebispos, em Santo Antão do Tojal, com uma sessão extraordinária da Comunidade de Leitores das bibliotecas municipais de Loures, subordinada ao tema A música na obra de Saramago, e que teve como convidado Jorge Vaz de Carvalho. O professor trouxe para esta conversa informal os auspícios de Memorial do Convento, de José Saramago, com base na ópera Blimunda, de Azio Corghi. A conversa fez-se de estórias e de personagens do romance, tais como Blimunda e Baltasar, o sonho de voar de Bartolomeu de Gusmão e a devoção à música de Domenico Scarlatti. Este evento integrou igualmente a programação do projeto Rota Memorial do Convento.






sábado, 11 de maio de 2019

Comunidade de Leitores pelos caminhos da Lisboa Judaica


A Comunidade de Leitores promoveu, no  dia 11 de maio, um passeio pelos caminhos da Lisboa judaica, no âmbito da temporada 2018/2019 desta iniciativa municipal.

Percurso pelos caminhos da Lisboa Judaica foi o nome do passeio que encerrou a edição 2018/2019 da Comunidade de Leitores, promovida pela Câmara Municipal de Loures, através da Rede de Bibliotecas Municipais.
Mais de quatro dezenas de leitores participaram neste passeio, guiado pela historiadora e investigadora Andreia Salvado, que os transportou da literatura para a realidade dos factos, ocorridos em Lisboa, à época.
No dia 9 de maio, a Comunidade de Leitores analisou ainda a obra O Último Cabalista de Lisboa, de Richard Zimler, numa conversa realizada na Biblioteca Municipal Ary dos Santos, em Sacavém. Esta obra literária relata o massacre ocorrido em abril de 1506, durante as celebrações da Páscoa, onde cerca de dois mil cristãos-novos foram mortos no Pogrom, em Lisboa, a mando dos frades dominicanos.
Ao longo de nove meses de leitura, os leitores desta Comunidade partilharam, através de conversas informais, as suas opiniões sobre as diversas obras escolhidas pelas moderadoras desta iniciativa, que nesta temporada teve como tema Passar o tempo pelo tempo.






domingo, 28 de abril de 2019

Pão e Poesia...



Conflito



Generalizando, nenhum de nós é quem afirma ser. Somos o que fazemos em situações de conflito. É nessas situações que nos revelamos.
Conflito é a perceção de que existe um obstáculo que nos impede de alcançar certo desejo. É uma disputa entre as coisas como elas se nos apresentam e como gostaríamos que elas fossem. E a nossa reação a esse desacerto.
Conflito é o eixo central de todas as histórias, porque define o foco da narrativa e delimita o tema que será desenvolvido em mais profundidade no texto.
As personagens são os alter-egos que, nas histórias, nos permitem experimentar a complexidade do mundo, sem os seus perigos.
O motor que motiva as personagens a lutar para alcançar os seus desejos são as suas crenças e os seus valores. São as suas referências de certo e errado, bom e mau, relevante e irrelevante, possível e impossível, desejável e indesejável. Essas referências determinam todos os seus comportamentos, pensamentos e emoções. Como determinam os nossos.
Atentar em que conflito cada personagem se envolve e como o ultrapassa ajudar-nos-á a identificar as suas crenças e os seus valores. E vice-versa. Como os conflitos em que nos envolvemos e como os ultrapassamos nos ajudam a perceber quem na realidade somos. E vice-versa.
Generalizando, a leitura ensina a viver.






domingo, 31 de março de 2019

A opção do escritor



Aqui nasce a grandeza da nossa nação — alardeou Smith, apontando o pavilhão sombrio onde giravam volantes e fumegavam caldeiras, mas Dickens só viu duzentos meninos enfarruscados a arrancar da fome forças.

quinta-feira, 21 de março de 2019

"Como a sombra que passa" em análise

Como a Sombra que Passa
Antonio Muñoz Molina

Opinião:
Identifico-me com este romance por várias razões. Sou lisboeta e adoro a cidade. Sou da mesma geração do escritor, tenho muitos gostos em comum, não só na literatura, como na música e também no cinema, Todos aqueles livros, músicos, atores, filmes que estão nomeados no romance são também os meus preferidos. Tenho-os em casa. No jazz: Chet Baker, Charlie Parker, Billy Holiday, John Coltrane, Dexter Gordon, Miles Davis e tantos outros.  Muitos destes, tive a oportunidade de ver e ouvir, apesar de ser muito jovem. Vi-os no mítico Festival de Jazz de Cascais. Este Festival havia de marcar os meus gostos musicais para sempre. Molina escreve "Eu amava o jazz, mas acho que amava ainda mais os músicos de jazz". E eu também. Depois temos os livros e os escritores, tantos de quem gosto e que cresci com eles como Baudelaire, Artaud, Flaubert, William Faulkner, Fitzgerald, Brecht e outros.  Os poetas Fernando Pessoa e Mário Césariny, Garcia Lorca e tantos outros. Depois temos o Jumi Hendrix e Lou Reed. Uau! Sublimes. A música de cabaré de Kurt Weill, que algumas vezes escutei no Alcântara Café. Os filmes de Fellini, a música de Gato Barbieri no Último Tango em Paris e a de Ennio MOrricone no filme Era uma vez na América. Laranja Mecânica de Stanley Kubrick, 1900, O Império dos Sentidos, todos filmes que permanecem nas nossas memórias para sempre.

Neste romance encontramos os passos de muitas pessoas e muitas sombras. Encontramos os passos de Ray, um assassino e os de Molina e também lá vejo os meus, em muitos locais de Lisboa, nomeadamente na Praça da Alegria, onde se localizava o Hot Clube de Portugal. Vou até à infância e com a mão dada à da minha mãe, também poderia ter cruzado os meus pequenos passos com os do assassino de Martin Luther King.

Depois há muitas frases neste livro que me dizem tanto e me fazem pensar, como por exemplo, atrás das portas da ficção o que há é um vazio, semelhante ao que existe atrás do cenário de um filme, a nossa realidade será assim tão vazia? o que fazemos sem a arte? Essa mediocridade que perdura no tempo e por isso, precisamos mesmo de estar dentro da ficção, como a paixão deve ser ilícita e clandestina, porque o matrimónio é aborrecido e a imaginação é mais rica e mais poderosa do que a realidade e o desejo mais valioso do que a satisfação.

Sempre gostei da noite e Molina escreve que a noite era mais poética de que o dia. Acredito como Molina há um instante qualquer que nos guia ao acaso, até às coisas que mais nos vão agradar, como um acaso me levou a este livro de Molina para fugir ao romance histórico, puro e duro, para a seleção de livros para esta edição da Comunidade de Leitores, como um acaso levou o escritor a ler o artigo de Vladimiro Nunes, no jornal Sol e a consequência de escrever um livro sobre o assassino de Martin Luther King e a regressar a Lisboa.

O escritor conta-nos a história de um assassino, que é provavelmente o menos importante do livro ou como diz Molina: queria contar uma novela, mas também como se constrói uma novela e foi isso que fez com grande mestria. Revisitou um outro livro O Inverno em Lisboa que muitos anos antes o havia trazido a Lisboa e nos tinha  contado uma história sublime, de mistério e paixão, sempre com o jazz em fundo, numa Lisboa noturna, que nos convida a deambular, a parar para beber algo forte e fumar um cigarro num qualquer bar no Cais do Sodré. Do mesmo modo que a neblina e as águas do Tejo isolavam Lisboa do Mundo, tornando-a não um lugar, mas uma paisagem do tempo, ele percebia pela primeira vez na vida a absoluta insularidade dos seus atos: ia-se tornando tão alheio ao seu próprio passado e ao seu futuro como aos objetos que o rodeavam de noite no quarto do hotel. Por vezes, é preciso alhearmo-nos da realidade e é por isso que é tão bom ler os romances de Antonio Muñoz Molina.
Maria Rijo

                                           Vladimiro Nunes, editor da ed. Ponto de Fuga