As malas de roupa, os sacos, as
caixas e outros objetos, que entre 1974 e 1975 enchiam os cais de embarque nas
ex-colónias e na metrópole, pertenciam aos cerca de meio milhão de pessoas, que
naquela altura retornavam a um país que tinha mudado a sua face política. Esse
foi o ambiente recriado no átrio da Biblioteca para receber os leitores que
vieram para a terceira sessão da Comunidade de Leitores.
A obra literária “O Retorno” de
Dulce Maria Cardoso, em análise nesta sessão, venceu o Prémio Especial da Crítica
2011 (LER/Booktailors), aborda o tema da descolonização portuguesa e, como
alguns leitores afirmaram, a autora fá-lo com alguma crueza. Este é certamente
um romance que toca muito nas emoções dos portugueses, por diversas razões, a
uns porque estiveram em Angola e Moçambique e tiveram de regressar e a outros
porque estavam cá e tiveram de os receber, num contexto muito particular, o da
Revolução do 25 de Abril de 1974.
Como alguns dos leitores
referiram, muitas feridas ainda estão abertas, não obstante terem passado mais
de 40 anos, e, portanto, é sempre doloroso falar destes assuntos. Outros leitores
consideram-no extemporâneo e outros vêem-no importante para quebrar silêncios e
tabus.
Este romance que é estudado na
cadeira Civilisation du Portugal actuel
, num dos cursos da prestigiada Universidade de Sorbonne, para além duma obra
de ficção é, como alguns leitores também o disseram, um valioso documento sobre
um acontecimento que marcou naturalmente gerações de portugueses e que faz
parte das suas memórias individuais.
O jeito de ser gente em Portugal, afinal, decorre de todas as
influências vividas e os chamados “retornados” trouxeram nas suas bagagens não
só roupas coloridas, mas outras formas de estar, outra cultura que mudou o
quotidiano de todos.
Sessão muito participada e que se
iniciou com uma leitura encenada de um excerto da obra literária “O Retorno”,
interpretada por professores e alunos do “Espaço AGITA – Centro de Artes” (Stª
Iria de Azóia).