domingo, 25 de novembro de 2018

Saramago em Concerto



Na última passagem de ano, desloquei-me com o grupo familiar habitual ao espaço fronteiro à Torre de Belém, onde a autarquia prometia música e fogo de artifício. A surpresa foi muito agradável. Até à meia-noite, atuou um conjunto muito curioso: formado por três violas, bateria, piano e três metais, só tocam músicas dos Beatles, copiam-nos em tudo, até nas roupas. Dão pelo nome de “Get Back Beatles” e são brasileiros. O esforço rende resultados: abstraindo-nos um pouco, quase acreditamos que estamos a ver e a ouvir os autênticos, quarenta anos depois, em Lisboa, todos vivos e jovens.
Admirei-os por terem conseguido arranjar um nicho de mercado original e rendoso.
Este revivalismo vem acontecendo com outras formulações. Tomei conhecimento de que, num clube privado, um grupo fazia a passagem de ano só com a banda sonora de uma novela brasileira. Uma passagem de ano temática.
Sempre atento às oportunidades de ganhar dinheiro com a literatura, dei por mim a pensar como se aplicaria o conceito ao ramo literário:
Seria possível encher um pavilhão, a pagar, para ver um autor a criar um conto? Várias câmaras captariam a folha onde o escritor alinharia as palavras, apresentando em grandes ecrãs panorâmicos com que palavras começava, quais cortava, mostrando o conto a nascer e a crescer, paulatina, mas inexoravelmente. Outras câmaras mostravam que apoios consultava, que palavras procurava nos dicionários, que partes ia aproveitando. Seria de evitar que o escritor

sábado, 17 de novembro de 2018

Comunidade de Leitores das Bibliotecas Municipais de Loures presente no III Encontro Ibérico de Leitores de Saramago, no Feijó


                             



No passado fim-de-semana realizou-se o III Encontro Ibérico Leitores de Saramago, na Biblioteca Municipal José Saramago, no Feijó. Organização da Câmara Municipal de Almada, Câmara Municipal de Beja/Biblioteca Municipal de Beja José Saramago e Aula Saramago.  No espaço dedicado aos Leitores de Saramago, esteve o representante da Comunidade de Leitores das Bibliotecas Municipais de Loures, Joaquim Bispo que apresentou a sua interpretação da obra literária "História do Cerco de Lisboa". 
Na última edição,  esta obra esteve em análise numa das sessões da Comunidade de Leitores, depois dos leitores viajarem até Almada,  ao Teatro Municipal Joaquim Benite para assistir a uma adaptação da obra de Saramago,  com dramaturgia de José Gabriel Antuñano e encenação de Ignacio García.
O IV Encontro, em 2019, realizar-se-á na Biblioteca Municipal José Saramago, em Loures.



sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Fala-lhes de Livros...

Fala-lhes de Batalhas, de Reis  e de Elefantes de Mathias Énard foi a obra literária que esteve em análise no passado dia 15 de novembro, na Biblioteca Municipal José Saramago, em Loures. A partir deste livro encheu-se uma mesa de cultura - livros, fotografias, objetos e outras coisas boas para no final da sessão podermos degustar.

Fala-lhes de Batalhas, de Reis  e de Elefantes

Construir uma ponte, não sob o estreito de Bósforo, mas entre a cultura, Miguel Ângelo, a literatura, a poesia, a pintura e a escultura. Vamos ver se a nossa ponte não é só um esboço de ponte.
Estamos perante um livro com poucas páginas, capítulos curtos, com um ritmo, que segundo o autor tem a ver com o ritmo do próprio Miguel Ângelo. Aliás o autor diz numa entrevista que o livro foi pensado como um “sketchbook” (livro de esboços), como os desenhos do próprio Miguel Ângelo. Mesmo o autor considerando-o um esboço, apresenta-nos um texto muito rico, belo e poético e é uma pérola, porque nos remete para o conhecimento, não só da vida do artista, mas para o conhecimento de um modo geral. Porque com este livro procuramos saber mais coisas. O próprio autor refere que teve de pesquisar muito para construir esta narrativa, e que demorou três anos a escrevê-lo.
A história deste livro é muito engraçada, porque o autor parte de um suposto convite do Sultão Bayzid (que reinou durante 31 anos, em Constantinopla.) e conta-nos um episódio da vida do grande artista Miguel Ângelo – a sua ida para Constantinopla (1506). ( o convite parece que existiu e ao que parece poderão existir esboços dessa ponte, mas Miguel Ângelo parece que nunca esteve em Constantinopla). João Paulo Oliveira e Costa, explicou numa sessão que existem os chamados buracos na história, entre as fontes , um hiato de tempo,  que levam os ficcionistas a usar da sua imaginação e escreverem romances do género histórico por conta disso. Este parece ser o caso.
Miguel Ângelo, teria 31 anos e já era um conceituado artista ou mesmo o maior daquele tempo, muitas vezes comparado a Leonardo Da Vinci que era 20 mais velho.
Tem uma oferta simpática de uma quantia avultada de dinheiro, por parte do Sultão e estando desavindo com o Papa Júlio II, terá aceitado. Há um pormenor que acaba por ser decisivo para ele aceitar o convite que foi o facto de Leonard Da Vinci ter sido anteriormente convidado e já ter feito um esboço para a tal ponte ser construída sobre o Corno de Ouro – uma ponte que unirá o lado ocidental do lado oriental da capital do Império Otomano. Consta que o Sultão terá rejeitado o projeto de Leonardo Da Vinci por não gostar dele esteticamente. O orgulho fala mais alto e leva Miguel Ângelo a aceitar.
Através desta obra literária também ficamos a conhecer um pouco do que era Constantinopla naquela época. Uma cidade cheia de gente de todas as crenças – os judeus, tinham sido expulsos de Portugal e também de Espanha, e os mouros haviam perdido o reino de Granada.) Portanto é uma Constantinopla de muitas línguas e culturas. Mathias Énard, é um escritor francês, premiado com o mais prestigiado prémio literário da França, o Prix Goncourt (com o livro Bússola, em 2015. Também recebeu o prémio Prix Décember, 2008 pelo seu livro Zona e por este “Fala-lhes de batalhas, de reis e de elefantes” Prix Goncourt Lycéene, 2010. Tem seis romances, mas penso que só três estão traduzidos na língua portuguesa.
 O autor viveu mais de 10 anos no Oriente, nomeadamente na Síria, na Líbia, Irão e Egito que ao todo faz mais de 10 anos. Sempre se interessou pela cultura oriental, estudou árabe e persa e é um académico especialista em literatura oriental.  É professor de árabe na Universidade de Barcelona, cidade onde vive.
É uma das vozes mais relevantes da literatura francófona. O autor já esteve em Portugal na Noite de Literatura Europeia.
Énard com este texto mostra-nos uma possibilidade de relações entre o Ocidente e o Oriente.
Com este livro chama a atenção para outras pontes, penso que metaforicamente o autor alerta para a necessidade de se estabelecerem pontes entre o ocidente e o oriente. No livro diz-se “São belas as pontes, se perdurarem”. É uma visão muito interessante.
O autor ficciona também uma relação com o poeta Mesihi (que existiu e foi um mestre da renovada poesia otomana). O poeta apaixona-se pelo escultor, que por sua vez sonha com a dançarina, vinda da Al-Andaluz (depois dos reis católicos terem destruído aquele lugar de coexistência pacífica entre muçulmanos, judeus e cristãos). São pessoas muitos diferentes do artista, mas que nos transporta para a ideia  de nos relacionarmos com o outro e aceitarmos as diferenças dos outros.
Parece haver um jogo de oposições que se desenvolve no texto.   Papa / Sultão; Cristão / muçulmano; guerra / poesia; leste / oeste; homossexualidade / heterossexualidade. De fato, a construção dessa ponte aparece na história como a solução.
É um livro brilhante que desafia o mito, a imaginação e a fantasia. O autor faz-nos entrar na mente de um génio, que é um turbilhão de ideias e que contribuiu um mundo mais belo, porque podemos ainda hoje apreciar as suas esculturas e pinturas. Através deste livro poderemos fazer uma viagem pela arte e por isso este livro está recomendado no PNL para jovens para motivar ao conhecimento das obras de arte espalhadas por Itália (sobretudo Florença e Roma).
                                Pietá de Miguel Ângelo


sábado, 10 de novembro de 2018

Entre o Sagrado e o Profano
















Os leitores da Comunidade de Leitores no percurso pelo Património de Santo Antão do Tojal, entre o Sagrado e Profano, com visita guiada ao Palácio dos Arcebispos, Igreja Paroquial, Aqueduto, Fonte Monumental, Chafariz, entre outros apontamentos culturais. Apesar da chuva, a visita revestiu-se de grande interesse para os leitores.





A Comunidade de Leitores na Rota do Memorial do Convento

No passado dia 18 de outubro de 2018 realizou-se a 1ª sessão da Comunidade de Leitores, com o título "Passar o tempo pelo tempo". O título é um jogo de palavras para o tempo - tempo que partilhamos em conversas literárias e outras e o tempo real que nesta edição, nos transporta para um outro tempo, já passado - o tempo da memória.
Duas obras literárias Memorial do Convento, de José Saramago, e Nove Mil Passos, de Pedro Almeida Vieira, foram os dois romances debatidos nesta sessão que contou com dois escritores, Miguel Real, comissário da Rota do Memorial do Convento e que nos veio falar do "Memorial do Convento" de José Saramago e Pedro Almeida Vieira que falou da sua obra literária "Nove Mil Passos"
A conversa centrou-se no reinado de D. João V, época que se realizaram duas grandes obras - O Convento de Mafra e o Aqueduto das Águas Livres, com finalidades bem distintas e também razões e histórias bem diferentes. Falou-se do Palácio dos Arcebispos, em Santo Antão do Tojal,onde decorreu esta sessão. Neste Palácio pernoitava o Rei e foi também aqui que os sinos do Convento de MAfra foram benzidos e poderiam falar de outros pormenores, alguns relatados nas obras literárias em análise.
Esta sessão, integrada na programação da Rota Memorial do Convento, um projeto intermunicipal dedicado à obra de José Saramago, realizou-se no Palácio dos Arcebispos, um dos imóveis classificados por esta iniciativa cultural e patrimonial. Loures, Lisboa e Mafra são os municípios que integram este projeto, que tem a Fundação José Saramago como parceiro estratégico.
Quase meia centena de pessoas participaram nesta sessão, entre elas, o presidente da União das Freguesias de Santo Antão e São Julião do Tojal, João Florindo. Antes de se iniciar o serão de reflexão, os dois escritores e o público foram presenteados com um momento de arte performativa, concebido e interpretado por Tânia Botas.
No dia 10 de novembro realizar-se-á um percurso pelo património de Santo Antão do Tojal, entre o sagrado e o profano e visitaremos o Palácio dos Arcebispos, Igreja Paroquial, Aqueduto, Fonte Monumental e Chafariz e  e que certamente complementará a leitura dos romances referidos.
A próxima sessão, de leitura e reflexão, da Comunidade de Leitores será dedicada ao livro Fala-lhes de batalhas, de reis e elefantes, de Mathias Énard. A iniciativa irá decorrer na Biblioteca Municipal José Saramago, em Loures, a 15 de novembro.