domingo, 27 de janeiro de 2019

A ponte



Viajar para Saturno não fazia parte das aspirações de Oleg, em criança. As leituras de juventude — muita ficção científica, muita divulgação científica — levaram-no, no entanto, para caminhos insuspeitos, mas empolgantes. Aos trinta e dois anos via-se a caminho de Encélado, uma lua de Saturno com aparentes boas possibilidades de desenvolver vida: tem água líquida, atividade hidrotermal e uma composição gasosa com algumas semelhanças com a da Terra. Tais condições, talvez amigáveis para humanos, desencadearam mais uma corrida espacial entre as nações do planeta azul. Haverá um momento em que pequenas colónias de homens terão necessariamente de procurar alternativas de espaço e de recursos naturais fora da superlotada e envenenada Terra.
Oleg integra a minúscula equipagem da Moct, a nave que já navega há quatro anos e ainda precisa de mais dezasseis para chegar a Saturno. Os três membros viajam em regime de oito meses de semi-hibernação induzida, por quatro meses de vigília/sono. O tempo custa a passar. Ainda falta quase um mês para Oleg voltar a ser submetido à fase letárgica. O isolamento é penoso e pérfido. Trocar palavras com a base terrestre é um exercício kafkiano, devido ao desfasamento temporal provocado pela distância. Uma palavra que ele lançasse agora para a Terra demoraria mais de três minutos a chegar lá; se devolvida logo, a resposta chegaria a Oleg mais de seis minutos depois. Não dava para conversar; só parodiar um patético diálogo de afásicos.
Oleg não estava tão isolado assim, tinha consciência. A enorme equipa que programara a missão a Encélado previra as intermináveis horas de solidão, estudara os gostos e a personalidade de cada cosmonauta. A Oleg forneceu cinquenta “teras” de filmes e livros, distribuídos por vários unidades de armazenamento.
No final da adolescência, Oleg continuava muito reservado. Era frequentador da biblioteca da sua cidade natal. Gostava de se internar no universo fantástico das secções; como descobridor de mundos, costumava aterrar numa galeria, explorar o continente de uma estante, deambular pelos vales surpreendentes das prateleiras, deslumbrar-se com as residências dos habitantes, entrar nas páginas de uma e tomar contacto com os inesperados moradores, às vezes, seres bizarros e inquietantes; outras, criaturas simpáticas e calorosas. À despedida, um conforto espiritual acompanhava-o, animando a sua condição de homem em busca de enriquecimento íntimo.
Da adolescência guardou aquele gosto pelo inesperado: entusiasmava-se com o que a sorte lhe atribuiria, em pesquisas aleatórias de leitura. Instalou-se no conforto de uma ténue gravidade artificial da zona de lazer, posicionou o visor a uma distância cómoda e lançou a pesquisa. A máquina apresentou-lhe “O jovem pastor e a fadazinha”, um conto valáquio de Gorki. À memória acorreu a imagem de um prado de extensão inimaginável. E do deslumbramento juvenil do pastorzinho aconchegado entre céu e planura.
Lembrava-se de todos os grandes clássicos: da monumentalidade de Tolstoi, da sátira social de Gogol, dos contos suaves e realistas de Chécov; este conto tinha estado encoberto, há tanto tempo que não o lia... Dentro em pouco, estava embrenhado nas peripécias ingénuas e carinhosas do pastor e da pequena fada nas margens do Danúbio:

«O pastor sentou-se à sombra de uma árvore solitária que, amante da liberdade, se afastara da floresta para crescer em plena estepe; erguia-se orgulhosa e altivamente, balouçando suavemente os ramos sob a carícia do vento que soprava do mar.
Era no mês de maio, um mês encantador, um mês alegre. A folhagem nova que o mês tinha feito nascer,

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

"O Império dos pardais" leva-nos ao século XVI


Livro:
O Império dos pardais de João Paulo Oliveira e Costa
10 janeiro
Comunidade de Leitores

O Museu Municipal de Loures – Quinta do Conventinho, em Loures, recebe, a 10 de janeiro, uma sessão da Comunidade de Leitores, onde se vai refletir sobre o livro O Império dos Pardais.
Da autoria de João Paulo Oliveira e Costa, O Império dos Pardais foi a obra de estreia deste autor. Centrando-se na afirmação do império colonial português, no início do século XVI, O Império dos Pardais é um romance histórico que decorre durante o reinado de D. Manuel I.