domingo, 30 de dezembro de 2018

Verosimilhança e verdade



Chama-se verosimilhança ao atributo daquilo que parece intuitivamente verdadeiro. "Vero" significa verdadeiro; "simil", semelhante; ou seja, o que é verosímil é semelhante ao que é verdadeiro. No caso da obra literária, verosimilhança quer dizer semelhante à realidade.
No entanto, muitas obras de ficção apresentam realidades fantásticas, irrealistas, afastadas da realidade conhecida e, ainda assim, não suscitam rejeição, nem sentimentos de inverosimilhança. Porque o referente do leitor deixou de ser a realidade que conhece do dia-a-dia e passou a ser a realidade construída pela narrativa apresentada.
Então, verosimilhança, em sentido mais abrangente, não é a semelhança dos elementos da obra com o mundo real, mas a credibilidade que esses elementos suscitam em relação ao mundo de ficção apresentado.
Cada obra de ficção possui uma lógica interna, que se torna o referente do leitor. Harry Potter pode perfeitamente sobrevoar Londres numa vassoura voadora; Hercule Poirot, de modo nenhum.

Para alguns autores, o verosímil é ainda mais exigente do que o verdadeiro, já que a verdade, às vezes, não é verosímil.

domingo, 23 de dezembro de 2018

Prelúdio de Natal

Tudo principiava
pela cúmplice neblina
que vinha perfumada
de lenha e tangerinas
Só depois se rasgava
a primeira cortina
E dispersa e dourada
no palco das vitrinas
a festa começava
entre odor a resina
e gosto a noz-moscada
e vozes femininas
A cidade ficava
sob a luz vespertina
pelas montras cercada
de paisagens alpinas

[David Mourão-Ferreira]

sábado, 22 de dezembro de 2018

BOAS FESTAS!




As mulheres/trabalhadoras/leitoras desejam aos  leitores da Comunidade de Leitores das Bibliotecas Municipais de Loures um Natal feliz e um Ano Novo com paz, livros e leituras.

Deixamos um  presente, um poema do poeta José Carlos Ary dos Santos, com o título Quando um homem quiser.

Tu que dormes à noite na calçada do relento 
numa cama de chuva com lençóis feitos de vento 
tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento 
és meu irmão, amigo, és meu irmão 

E tu que dormes só o pesadelo do ciúme 
numa cama de raiva com lençóis feitos de lume 
e sofres o Natal da solidão sem um queixume 
és meu irmão, amigo, és meu irmão 

Natal é em Dezembro 
mas em Maio pode ser 
Natal é em Setembro 
é quando um homem quiser 
Natal é quando nasce 
uma vida a amanhecer 
Natal é sempre o fruto 
que há no ventre da mulher 

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar 
tu que inventas bonecas e comboios de luar 
e mentes ao teu filho por não os poderes comprar 
és meu irmão, amigo, és meu irmão 

E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei 
fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei 
pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei 
és meu irmão, amigo, és meu irmão 

Ary dos Santos, in 'As Palavras das Cantigas' 

BOAS FESTAS!

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

"O Império dos Pardais" no Museu Municipal de Loures


A 4ª sessão da Comunidade de Leitores das Bibliotecas Municipais de Loures  realiza-se no Museu Municipal de Loures com a presença do autor João Paulo Oliveira e Costa. 

João Paulo Oliveira e Costa, nascido em 1962, é doutor em História e Professor Catedrático da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. É Diretor do Centro de História de Além-Mar (CHAM) e membro da Direção do Centro de Estudos de Povos e Culturas de Expressão Portuguesa da Universidade Católica Portuguesa. Foi um dos coordenadores científicos das Biografias dos Reis de Portugal e autor de D. Manuel I, publicado nesta coleção. Iniciou-se na escrita de ficção com o romance O Império dos Pardais (2008), a que se seguiu O Fio do Tempo (2011).
SINOPSE
Um romance histórico que tem como pano de fundo a afirmação do Império Português, o império dos pardais, durante o reinado de D. Manuel I e se centra em torno de cinco personagens principais que se movem dentro da lógica do mundo da espionagem. A personagem central é uma espia excecional que pensa abandonar uma vida dedicada à violência e à satisfação de instintos primários, em que fora forçada a entrar, para recuperar uma vida social normal ao lado de um artista talentoso, apaixonado e ingénuo. A sua luta interior (contra hábitos sedimentados por quinze anos de isolamento, de rancor, de secretismo e de memórias perturbadoras) e o seu esforço para se libertar dos seus antigos mandantes percorrem toda a narrativa. A vida desta mulher cruza-se com a de dois supostos responsáveis pelos serviços secretos de D. Manuel I e amigos pessoais do rei. Ao acompanhar os encontros e desencontros, o leitor vive as cores, os aromas e os quotidianos de um tempo extraordinário em várias cidades e portos por onde vão passando e vivendo as personagens deste romance, que homenageia um povo e um rei.