sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

 









Para haver Natal este Natal

Talvez seja preciso reaprendermos
Coisas tão simples!

Que as mãos preocupadas com embrulhos
Esquecem outros gestos de amor,
Que os votos rotineiros que trocamos
Calam conversas que nos fariam melhor,
Que os símbolos apenas se amontoam
E soltam uma música triste
Quando já não dizem aquela verdade profunda!

Para haver Natal este Natal
Talvez seja preciso recordar
Que as vidas começam e recomeçam
E tudo isso é nascimento (logo, Natal)
Que as esperanças ganham sentido
Quando se tornam caminhos e passos.
Que para lá das janelas cerradas
Há estrelas que luzem
E há a imensidão do Céu.

Talvez nos bastem coisas
Afinal tão simples:

O alento dos reencontros autênticos;
A oração como confiança soletrada;
A certeza de que Jesus nasce em cada ano
Para que o nosso natal, alguma vez, esta vez, seja Natal!

[José Tolentino de Mendonça]




quinta-feira, 1 de outubro de 2020

 

OUTONO

Uma vez um homem encontrou duas folhas e entrou em casa segurando-as com os braços esticados dizendo aos pais que era uma árvore.

Ao que eles disseram então vai para o pátio e não cresças na sala pois as tuas raízes podem estragar a carpete.

Ele disse eu estava a brincar não sou uma árvore e deixou cair as folhas.

Mas os pais disseram olha é outono.

[Russell Edson, in “O Túnel”, 1935]


terça-feira, 7 de abril de 2020

Sugestão de leitura de Luísa Correia em tempo de pandemia covid 19

Luísa Correia, leitora da Comunidade de Leitores das Bibliotecas Municipais de Loures propõe-nos um poema de um grande autor português, Miguel Torga, porque citando Gabriel Celaya, a “A POESIA É UMA ARMA CARREGADA DE FUTURO” com esperança em dias melhores…
A um secreto Leitor
No silêncio da noite é que eu te falo
Como através dum ralo
Da confissão
Auscultadores pessoais e atentos,
Os teus ouvidos são
Ermos abertos para os meus tormentos.
Sem saber o teu nome e sem te ver
-Juiz que ninguém pode corromper-
Murmuro-te os meus versos, os pecados,
Penitente e seguro
De que serás um búzio do futuro,
Se os poemas me forem perdoados.
(TORGA, Miguel in “Poesia completa”)

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Sugestão de leituras de Maria Celeste Pimenta em tempo de pandemia covid 19

Maria Celeste Pimenta, leitora da Comunidade de Leitores das Bibliotecas Municipais de Loures sugere uma obra literária que neste momento, está a ler. “A História de uma Serva” e falamos, naturalmente, da autora canadiana Margaret Atwood.
(Excerto)
“Aguardo. Recomponho-me. A minha pessoa é uma coisa que eu agora tenho de compor, como alguém compõe um discurso. Aquilo que tenho de apresentar é uma coisa feita, não uma coisa nascida”.
(ATWOOD, Margaret in “A História de uma Serva”, p. 81)
Foto: Maria Pimenta

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domingo, 5 de abril de 2020

Sugestão de leitura de Margarida Moreira em tempo de pandemia covid 19.

Margarida Moreira, leitora da Comunidade de Leitores das Bibliotecas Municipais de Loures sugere o livro “O Nu na Antiguidade Clássica”, uma Antologia de Poemas sobre a Grécia e Roma de Sophia de Mello Breyner Andreson.
Quando lemos Sophia, apercebemo-nos que nesses momentos ela permanece sentada ao nosso lado, entregando-nos em mãos todo o encantamento que viveu - com as palavras certas nos envolve e deslumbra.
Neste livro Sophia dedica-se ao estudo e reflexão sobre a Grécia e Roma, Antigas.
Da poesia dela emana o cheiro das flores, o vento que sentimos no rosto, o odor da maresia, o murmurar do mar,... a beleza dos corpos e almas humanas, nus, enraizados como plantas imortais nos tempos antigos.
Margarida Moreira
Poema:
A minha vida está vivida
Já minha morte prepara
Seu pó de beladona
Viajarei ainda para me despedir das imagens
Antes de despir a túnica do visível
Em vão me engano
Verdadeiramente sou quem fui
Atravessando quartos forrados de espelhos ardentes
E diluída no fulgor da Primavera antiga
Se ainda busco o promontório de Sunion
é porque nele vejo a minha face despida
o mitológico mundo interior e exterior
da minha própria unidade perseguida
Mas como despedir-me deste sal
Deste vento inventor de degraus e colunas
Como despedir-me das pedras deste mar
E deste denso amor inteiro e sem costuras.
Andreson, Sophia de Mello Breyner in “O Nu na Antiguidade Clássica”, p.203)
Foto: Margarida Moreira






sábado, 4 de abril de 2020


o quarto agora é o mundo todo
nem maior nem menor
que o mundo inteiro

dantes ia eu
aos múltiplos lugares
venham agora
esses lugares a mim

[Carlos Poças Falcão,
in “A nuvem”
]
[Editora Opera Omnia]

Sugestão de Leitura de MIzé em tempo de pandemia covid 19

Mizé , como é conhecida, leitora da Comunidade de Leitores das Bibliotecas Municipais de Loures sugere a leitura de um livro de Albert Camus, “A Peste” e refere que “Ao reler as páginas deste livro nota-se uma semelhança atroz do que estamos a viver. Espera e deseja, que a metáfora de toda a obra não se volte a repetir”.
(excertos)
“Era bem claro que as medidas adoptadas eram insuficientes, (…) sabia bem do que tratava: dois pavilhões apressadamente libertados dos seus outros doentes, com as janelas calafetadas, rodeadas de um cordão sanitário. Se a epidemia não passasse por si própria, não seria vencida pelas medidas que a administração tinha imaginado”.
(…) Em três dias, com efeito, os dois pavilhões ficaram cheios.
(…) Por esta época, o tempo pareceu fixar-se”
(CAMUS, Albert in “A Peste”, p. 74 e 75)

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sexta-feira, 3 de abril de 2020

Sugestão de leitura de Carlos Sousa em tempo de pandemia covid 19

Carlos Sousa, leitor da Comunidade de Leitores das Bibliotecas Municipais de Loures sugere uma obra literária de Kafka. Com esta novela, Kafka revela ao homem moderno a sua sinistra condição.
(excerto)
“GREGOR SÓ AO CAIR DA NOITE ACORDOU DAQUELE SONO PESADO, que o deixou quase inconsciente. Não teria certamente acordado muito mais tarde, mesmo sem qualquer perturbação, porque se sentia descansado e bem dormido; mas pareceu-lhe que tinha sido despertado por um passo leve e pelo fechar cuidadoso da porta que dava para a sala ao lado. (…) O seu lado esquerdo parecia uma única e longa cicatriz, arrepanhada e feia, e coxeava bastante das duas filas de pernas. Uma delas, aliás, tinha ficado seriamente ferida nessa manhã – era quase um milagre que só uma estivesse ferida – e arrastava-se sem vida”.
(KAFKA, Franz in Metamorfose)

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Sugestão de leitura de de Vera Morganheira em tempo de pandemia covid 19

Vera Morganheira, leitora da Comunidade de Leitores das Bibliotecas Municipais de Loures sugere-nos um livro de um autor francês Olivier Rolin, autor bastante atual pelas suas reflexões sobre a sociedade contemporânea.
(excerto)
“As paisagens originais são os espaços sentimentais pelos quais estamos ligados ao mundo, os istmos refeitos da memória: mas a escrita também aspira à liberdade de não ser de lado nenhum, e de ser esquecida. Nenhuma obra digna deste nome se deixa encerrar num determinismo de território. Ser “enraizado”, deixemos isso para as beterrabas”
(ROLIN, Olivier in "Paisagens originais", p. 124)
Foto: Pedro Pereira

A imagem pode conter: céu, oceano, nuvem, ar livre, natureza e água

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Sugestão de leitura de Carlos Santos em tempo de pandemia covid 19.

Carlos Rio Santos, leitor da Comunidade de Leitores das Bibliotecas Municipais de Loures sugere para leitura o último livro do escritor João Tordo e refere que o autor, em “A noite em que o verão acabou”, envereda pelo policial, género que não acha nada menor. E diz ele, “envolve-nos, ao longo de 667 páginas num thriller com o mistério e o suspense inerentes. E sai-se muito bem, pelo menos até à página 450 (onde vou). E agora, desculpem, mas há um assassino a descobrir”.
(excerto da obra)
"Era o princípio da tarde e as cigarras zumbiam na planície. A torre de água perfilava-se, velha e decrépita, contra um céu azul pontuado de nuvens brancas e cinzentas, nimbos de baixa altitude que obstruíam a linha do horizonte. No cimo da torre, junto das escadas, vi a figura de Laura, sentada de costas para mim. Abraçava os joelhos e olhava para o céu ameaçador, anunciando o princípio de um doloroso Outono e de um Inverno ainda mais duro. Lembrei-me das estrelas-cadentes, dos fragmentos de meteoritos que pegavam fogo. Imaginei que, no alto da torre, conversaríamos sobre os últimos acontecimentos, sobre o sofrimento que isso lhe provocava e como, juntos, podíamos enfrentar o que aí vinha. Juntos, seriamos capazes de enfrentar o que aí vinha. Juntos, seriamos capazes de enfrentar a pior das tempestades."
(TORDO, João in “A noite em que o verão acabou”, p. 406)
Foto: Carlos Rio Santos


A imagem pode conter: nuvem, céu, planta e ar livre

terça-feira, 31 de março de 2020

Sugestão de leitura de Dolores Parreira em tempo de pandemia covid 19

Em tempos de distanciamento social por causa da pandemia originada pelo vírus Covid 19, os leitores da Comunidade de Leitores das Bibliotecas Municipais de Loures continuam ligados, não de forma presencial, mas através das tecnologias digitais que permitem um outro tipo de  aproximação.

Desta forma, têm sido feitas sugestões de leitura no facebook das 'Bibliotecas de Loures' e que vão ser reproduzidas aqui neste espaço digital de todos nós.

Dolores Parreira, leitora da Comunidade de Leitores das Bibliotecas Municipais de Loures escolheu o livro “O Gesto Que Fazemos para Proteger a Cabeça” de Ana Margarida de Carvalho, para vos deixar aqui dois excertos. O primeiro, diz Dolores, porque me sensibilizou particularmente pela definição do que é o amor: "és a minha mortal contribuição para a imortalidade" e outro sobre o cantar do Alentejo: "sempre curtas as palavras para tão longa música, sobrava-lhe a melodia, não era verdade o que fizera constar na taberna, ele não era dotado de imaginação, jamais, acreditava, conseguiria criar o que quer que fosse,...".
(CARVALHO, Ana Margarida de in "O Gesto Que Fazemos para Proteger a Cabeça, p. 28)
Boas leituras!
Foto: Jorge Alves


A imagem pode conter: céu, nuvem, relva, árvore, ar livre e natureza

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Leituras do Memorial do Convento pelos leitores da Comunidade de Leitores das BML

Este pequeno filme é feito de bons momentos entre os leitores desta Comunidade. É feito de palavras, suas escolhas, após leitura e releitura da obra literária "Memorial do Convento" de José Saramago. Livro a que todos regressamos, muitas vezes e sempre que necessário.

Este filme foi concebido para ser exibido no Congresso Internacional José Saramago e o Memorial do Convento em Mafra, realizado de 14  a 16 de novembro de 2019.