sexta-feira, 29 de maio de 2015

Cidades Mais Literárias

Cidades mais literárias

Do Blogue Horas Extraordinárias
publicado por Maria do Rosário Pedreira,
 
No tempo em que andei na faculdade, havia uma cadeira de opção que me atraía (mas, por acaso, não cheguei a fazê-la) chamada Literatura e Artes Plásticas. É dessa agradável combinação que hoje se reveste o assunto deste post. O Departamento de Património Cultural da Câmara Municipal de Lisboa, em parceria com a Leya, lançou há tempos o desafio de, através das artes plásticas, serem decorados os simpáticos vidrões da cidade com intervenções de inspiração literária, mas com toda a liberdade criativa. Podia ser simplesmente a partir de uma frase, mas também da história contada em determinado livro ou até da obra de um certo autor – o que importava era que a literatura de língua portuguesa fosse homenageada nos 100 vidrões que estão espalhados por Lisboa. E os artistas nem tinham de ter formação específica ou mais de dezoito anos, a ideia era mesmo permitir a qualquer amante da literatura fazer bonito com o seu autor preferido num vidrão e trabalhar em grupo ou sozinho. Pois estamos quase a poder ver o resultado – e cá para mim, que não cheguei a fazer aquela cadeira na faculdade, misturar literatura e artes plásticas só pode ser bom.
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segunda-feira, 25 de maio de 2015

A Comunidade de Leitores da BMJS vai estar à conversa com Manuel Jorge Marmelo, na Feira do Livro de Lisboa, dia 6 de junho, pelas 18H00, na Praça Amarela

A 5ª sessão da edição 2015 subordinada ao tema "Este jeito de ser gente em Portugal" vai realizar-se no dia 6 de junho, pelas 18h00, na Praça Amarela da Feira do Livro de Lisboa. A obra literária em debate é "O Tempo Morto, é Um Bom Lugar" de Manuel Jorge Marmelo. Esta sessão contará com a presença do autor.


Neste livro o autor reflete sobre o nosso tempo,sobre o estado do nosso país, onde o desemprego atinge um grande número de pessoas, entre elas, uma percentagem elevadíssima de jovens.  O escritor escreveu este livro também na condição de desempregado, embora não considere este romance autobiográfico. É também um livro sobre jovens e a falta de perspetivas para as suas vidas, abordando a questão da participação em programas mediáticos como "tábua de salvação". Mas este romance é mais do que uma crítica ao país em que vivemos. Ele constitui uma grande interrogação sobre o nosso jeito de ser gente em Portugal. Afinal, será que o tempo morto é mesmo um bom lugar?
Manuel Jorge Marmelo leva-nos, de forma inteligente, a interrogar-nos sobre a nossa sociedade.

LEIA E PARTICIPE!










sexta-feira, 22 de maio de 2015

Poema de António Feliciano Castilho "Treze Anos", música Maio Moço.






OS TREZE ANOS
(Cantilena)

Já tenho treze anos,
Que os fiz por Janeiro:
Madrinha, casai-me,
Com Pedro gaiteiro.

Já sou mulherzinha;
Já trago sombreiro;
Já bailo ao domingo
Co’as mais no terreiro.

Já não sou Anita,
Como era primeiro,
Sou a senhora Ana,
Que mora no outeiro.

Nos serões já canto,
Nas feiras já feiro,
Já não me dá beijos
Qualquer passageiro.

Quando levo as patas,
E as deito ao ribeiro,
Olho tudo à roda
De cima do outeiro,

E só se não vejo
Ninguém pelo arneiro,
Me banho co’as patas
Ao pé do salgueiro.

Miro-me nas águas
Rostinho trigueiro,
Que mata d’amores
A muito vaqueiro.

Miro-me olhos pretos
E um riso fagueiro,
Que diz a cantiga
Que são cativeiro.

Em tudo, madrinha,
Já por derradeiro
Me vejo mui outra
Da que era primeiro.

O meu gibão largo
D’arminho e cordeiro
Já o dei à neta
Do Brás cabaneiro,

Dizendo-lhe –Toma
Gibão domingueiro,
D’ilhoses de prata,
D’arminho e cordeiro.

A mim já me aperta,
E a ti te é laceiro;
Tu brincas co’as outras,
E eu danço em terreiro.
Já sou mulherzinha,
Já trago sombreiro;
Já tenho treze anos,
Que os fiz por Janeiro.

Já não sou Anita,
Sou a Ana do outeiro;
Madrinha, casai-me,
Com Pedro gaiteiro.

Não quero o sargento,
Que é muito guerreiro,
De barbas mui feras,
E olhar sobranceiro.

O mineiro é velho;
Não quero o mineiro:
Mais valem treze anos
Que todo o dinheiro.

Tão pouco me agrado
Do pobre moleiro,
Que vive na azenha
Como um prisioneiro.

Marido pretendo
De humor galhofeiro,
Que viva por festas,
Que brilhe em terreiro.

Que em ele assomando
Co’o tamborileiro,
Logo se alvorote
O lugar inteiro.
Que todos acorram
Por vê-lo primeiro;
E todas perguntem
Se ainda é solteiro.

E eu sempre com ele,
Romeira e romeiro,
Vivendo de bodas,
Bailando ao pandeiro.

Ai, vida de gostos!
Ai céu verdadeiro!
Ai Páscoa florida,
Que dura ano inteiro!

Da parte, madrinha,
De Deus vos requeiro;
Casai-me hoje mesmo
Com Pedro Gaiteiro.


(António Feliciano de Castilho – 1800-1875)

A carta de Antero de Quental a António Feliciano de Castilho



quarta-feira, 20 de maio de 2015

Redescobrir: António Feliciano de Castilho



Dizia-vos eu, meus camponeses, que todos os poetas deveras eram vossos amigos; não há nada mais certo.
A Poesia nasceu nos campos, e por muito tempo só conheceu esse viver viçoso e perfumado. Veio a fazer-se dama ambiciosa de mais refinadas delícias; assentou vivenda nas cidades; fez-se muito sábia, muito altiva, muito malédica, muito contraditória; ora devota, ora ímpia, ora frívola, ora profunda; mas lá os seus campos nunca se lhes desluziram da lembrança.
Em nenhuma parte a ouvireis cantar combates, viagens, descobrimentos, artes, luxo, amores, ou desejos de melhor vida para além-mundo, que lhe não fugisse um olhar de saudade para o seu paraíso de flores.
A idade de oiro, que é a sua cisma contínua, posta umas vezes no passado, outras no futuro, a idade de oiro, (que Deus sabe se é tão fabulosa como cuidam, a não ser em relação ao seu título), que era ela se não a Arcádia, o viver campestre, manso e regalado?

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Leitura encenada pelo grupo de teatro GATAM da SRManjoeira

A viagem fez-se a salto para França através do "Livro" de José Luís Peixoto.

Os leitores ocuparam os seus lugares no comboio que seguia para França. Ouvimos vozes. Eram os outros viajantes que seguiam connosco (atrizes do GATAM da SRManjoeira). Estávamos nos anos 60/70 do século passado. Nessa altura partiram de Portugal cerca de um milhão e meio de pessoas, dos quais um milhão foi para França  à procura de uma vida melhor. Fugiam por razões económicas mas não só, também fugiam da Guerra Colonial, por a considerarem injusta.
Esta é a temática central do Livro de José Luis Peixoto que nos dá um retrato bastante realista daqueles anos. As palavras do escritor levam-nos efetivamente a ocupar o lugar numa das camionetas e/ou comboios que os levavam a “salto” ou, como se dizia naquele tempo com “passaporte de coelho”.
Esta obra literária estabelece também um paralelismo entre as condições de vida miseráveis vividas nas aldeias e vilas de Portugal, sobretudo as do interior,  e as condições de vida em França, como por exemplo, no Bidonville de Saint-Denis, um dos bairros de barracas para onde iam viver os portugueses.
Constitui também um retrato fiel da vida de muitos portugueses num Portugal subjugado pela ditadura salazarista.
Estes assuntos ocuparam o serão num debate rico, explorando os personagens também eles ricos e bastante elaborados, como Ilídio, Adelaide, Josué, Constantino e tantos outros que são bem representativos deste jeito de ser gente em Portugal.
Houve quase unanimidade em considerar o Livro como uma obra literária de grande valor, pese embora, a segunda parte do livro não tenha sido do agrado da maioria dos leitores que a consideraram quase dispensável no romance.









segunda-feira, 4 de maio de 2015

"Livro" de José Luís Peixoto em debate na próxima sessão - dia 7 de maio




Este romance de José Luís Peixoto editado em 2010 é centrado na emigração portuguesa para França nas décadas de 60/70 do século XX. Uma emigração económica mas também política. Fugia-se da fome, fugia-se de uma guerra e de um regime político.
A mãe pousou o livro nas mãos do filho. (...) E não se esforçou por ouvir os passos da mãe a afastarem-se até serem apenas um resto de som. Só o instinto. (...) Onde estaria a sua mãe? Porque não o vinha buscar? (...)Quando chegasse, iria castigá-la (...) Nesta narrativa realista, as palavras atravessam-nos o peito. Realidades doridas pela partida forçada num mundo que parece inclinado, como diz o autor no livro.
Através desta obra literária conhecemos a vida dos portugueses num Portugal pobre, com miséria, que viviam em casas sem água canalizada, sem esgoto  e outros bens. Era assim a vida de  Josué ou da mãe de Ilídio num contraste com outras vidas ricas, como a da família da Dona Milú.
Acresce-se a falta  de liberdade e a guerra colonial que obrigava os jovens a partir. Ouvimos as palavras de Cosme que partiu com Ilídio,  A guerra, porra (...) Porque é que sou eu que tenho de ficar ali, esticado no caixão, a engolir a pátria à pazada? Ilídio, esse, partiu à procura de melhor vida e do seu amor - Adelaide que antes também tinha partido numa noite verdadeira. França era o destino. 
Segundo o autor, este livro está dividido em duas partes. A primeira que "trata especificamente de uma história de emigração, dramática, muito realista, cheia de histórias e de episódios que dificilmente esqueceremos" e a segunda parte que "trata deste personagem, que tem um nome ainda mais estranho: Livro".
Estas e outras  personagens que encontramos neste livro,fascinantes e muito elaboradas, são o nosso jeito de ser gente em Portugal. 
Venha conhecê-las melhor.