terça-feira, 7 de abril de 2020

Sugestão de leitura de Luísa Correia em tempo de pandemia covid 19

Luísa Correia, leitora da Comunidade de Leitores das Bibliotecas Municipais de Loures propõe-nos um poema de um grande autor português, Miguel Torga, porque citando Gabriel Celaya, a “A POESIA É UMA ARMA CARREGADA DE FUTURO” com esperança em dias melhores…
A um secreto Leitor
No silêncio da noite é que eu te falo
Como através dum ralo
Da confissão
Auscultadores pessoais e atentos,
Os teus ouvidos são
Ermos abertos para os meus tormentos.
Sem saber o teu nome e sem te ver
-Juiz que ninguém pode corromper-
Murmuro-te os meus versos, os pecados,
Penitente e seguro
De que serás um búzio do futuro,
Se os poemas me forem perdoados.
(TORGA, Miguel in “Poesia completa”)

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Sugestão de leituras de Maria Celeste Pimenta em tempo de pandemia covid 19

Maria Celeste Pimenta, leitora da Comunidade de Leitores das Bibliotecas Municipais de Loures sugere uma obra literária que neste momento, está a ler. “A História de uma Serva” e falamos, naturalmente, da autora canadiana Margaret Atwood.
(Excerto)
“Aguardo. Recomponho-me. A minha pessoa é uma coisa que eu agora tenho de compor, como alguém compõe um discurso. Aquilo que tenho de apresentar é uma coisa feita, não uma coisa nascida”.
(ATWOOD, Margaret in “A História de uma Serva”, p. 81)
Foto: Maria Pimenta

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domingo, 5 de abril de 2020

Sugestão de leitura de Margarida Moreira em tempo de pandemia covid 19.

Margarida Moreira, leitora da Comunidade de Leitores das Bibliotecas Municipais de Loures sugere o livro “O Nu na Antiguidade Clássica”, uma Antologia de Poemas sobre a Grécia e Roma de Sophia de Mello Breyner Andreson.
Quando lemos Sophia, apercebemo-nos que nesses momentos ela permanece sentada ao nosso lado, entregando-nos em mãos todo o encantamento que viveu - com as palavras certas nos envolve e deslumbra.
Neste livro Sophia dedica-se ao estudo e reflexão sobre a Grécia e Roma, Antigas.
Da poesia dela emana o cheiro das flores, o vento que sentimos no rosto, o odor da maresia, o murmurar do mar,... a beleza dos corpos e almas humanas, nus, enraizados como plantas imortais nos tempos antigos.
Margarida Moreira
Poema:
A minha vida está vivida
Já minha morte prepara
Seu pó de beladona
Viajarei ainda para me despedir das imagens
Antes de despir a túnica do visível
Em vão me engano
Verdadeiramente sou quem fui
Atravessando quartos forrados de espelhos ardentes
E diluída no fulgor da Primavera antiga
Se ainda busco o promontório de Sunion
é porque nele vejo a minha face despida
o mitológico mundo interior e exterior
da minha própria unidade perseguida
Mas como despedir-me deste sal
Deste vento inventor de degraus e colunas
Como despedir-me das pedras deste mar
E deste denso amor inteiro e sem costuras.
Andreson, Sophia de Mello Breyner in “O Nu na Antiguidade Clássica”, p.203)
Foto: Margarida Moreira






sábado, 4 de abril de 2020


o quarto agora é o mundo todo
nem maior nem menor
que o mundo inteiro

dantes ia eu
aos múltiplos lugares
venham agora
esses lugares a mim

[Carlos Poças Falcão,
in “A nuvem”
]
[Editora Opera Omnia]

Sugestão de Leitura de MIzé em tempo de pandemia covid 19

Mizé , como é conhecida, leitora da Comunidade de Leitores das Bibliotecas Municipais de Loures sugere a leitura de um livro de Albert Camus, “A Peste” e refere que “Ao reler as páginas deste livro nota-se uma semelhança atroz do que estamos a viver. Espera e deseja, que a metáfora de toda a obra não se volte a repetir”.
(excertos)
“Era bem claro que as medidas adoptadas eram insuficientes, (…) sabia bem do que tratava: dois pavilhões apressadamente libertados dos seus outros doentes, com as janelas calafetadas, rodeadas de um cordão sanitário. Se a epidemia não passasse por si própria, não seria vencida pelas medidas que a administração tinha imaginado”.
(…) Em três dias, com efeito, os dois pavilhões ficaram cheios.
(…) Por esta época, o tempo pareceu fixar-se”
(CAMUS, Albert in “A Peste”, p. 74 e 75)

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sexta-feira, 3 de abril de 2020

Sugestão de leitura de Carlos Sousa em tempo de pandemia covid 19

Carlos Sousa, leitor da Comunidade de Leitores das Bibliotecas Municipais de Loures sugere uma obra literária de Kafka. Com esta novela, Kafka revela ao homem moderno a sua sinistra condição.
(excerto)
“GREGOR SÓ AO CAIR DA NOITE ACORDOU DAQUELE SONO PESADO, que o deixou quase inconsciente. Não teria certamente acordado muito mais tarde, mesmo sem qualquer perturbação, porque se sentia descansado e bem dormido; mas pareceu-lhe que tinha sido despertado por um passo leve e pelo fechar cuidadoso da porta que dava para a sala ao lado. (…) O seu lado esquerdo parecia uma única e longa cicatriz, arrepanhada e feia, e coxeava bastante das duas filas de pernas. Uma delas, aliás, tinha ficado seriamente ferida nessa manhã – era quase um milagre que só uma estivesse ferida – e arrastava-se sem vida”.
(KAFKA, Franz in Metamorfose)

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Sugestão de leitura de de Vera Morganheira em tempo de pandemia covid 19

Vera Morganheira, leitora da Comunidade de Leitores das Bibliotecas Municipais de Loures sugere-nos um livro de um autor francês Olivier Rolin, autor bastante atual pelas suas reflexões sobre a sociedade contemporânea.
(excerto)
“As paisagens originais são os espaços sentimentais pelos quais estamos ligados ao mundo, os istmos refeitos da memória: mas a escrita também aspira à liberdade de não ser de lado nenhum, e de ser esquecida. Nenhuma obra digna deste nome se deixa encerrar num determinismo de território. Ser “enraizado”, deixemos isso para as beterrabas”
(ROLIN, Olivier in "Paisagens originais", p. 124)
Foto: Pedro Pereira

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quarta-feira, 1 de abril de 2020

Sugestão de leitura de Carlos Santos em tempo de pandemia covid 19.

Carlos Rio Santos, leitor da Comunidade de Leitores das Bibliotecas Municipais de Loures sugere para leitura o último livro do escritor João Tordo e refere que o autor, em “A noite em que o verão acabou”, envereda pelo policial, género que não acha nada menor. E diz ele, “envolve-nos, ao longo de 667 páginas num thriller com o mistério e o suspense inerentes. E sai-se muito bem, pelo menos até à página 450 (onde vou). E agora, desculpem, mas há um assassino a descobrir”.
(excerto da obra)
"Era o princípio da tarde e as cigarras zumbiam na planície. A torre de água perfilava-se, velha e decrépita, contra um céu azul pontuado de nuvens brancas e cinzentas, nimbos de baixa altitude que obstruíam a linha do horizonte. No cimo da torre, junto das escadas, vi a figura de Laura, sentada de costas para mim. Abraçava os joelhos e olhava para o céu ameaçador, anunciando o princípio de um doloroso Outono e de um Inverno ainda mais duro. Lembrei-me das estrelas-cadentes, dos fragmentos de meteoritos que pegavam fogo. Imaginei que, no alto da torre, conversaríamos sobre os últimos acontecimentos, sobre o sofrimento que isso lhe provocava e como, juntos, podíamos enfrentar o que aí vinha. Juntos, seriamos capazes de enfrentar o que aí vinha. Juntos, seriamos capazes de enfrentar a pior das tempestades."
(TORDO, João in “A noite em que o verão acabou”, p. 406)
Foto: Carlos Rio Santos


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