sexta-feira, 10 de abril de 2015

A Comunidade de Leitores debate um tema complexo - a descolonização portuguesa

As malas de roupa, os sacos, as caixas e outros objetos, que entre 1974 e 1975 enchiam os cais de embarque nas ex-colónias e na metrópole, pertenciam aos cerca de meio milhão de pessoas, que naquela altura retornavam a um país que tinha mudado a sua face política. Esse foi o ambiente recriado no átrio da Biblioteca para receber os leitores que vieram para a terceira sessão da Comunidade de Leitores.
A obra literária “O Retorno” de Dulce Maria Cardoso, em análise nesta sessão, venceu o Prémio Especial da Crítica 2011 (LER/Booktailors), aborda o tema da descolonização portuguesa e, como alguns leitores afirmaram, a autora fá-lo com alguma crueza. Este é certamente um romance que toca muito nas emoções dos portugueses, por diversas razões, a uns porque estiveram em Angola e Moçambique e tiveram de regressar e a outros porque estavam cá e tiveram de os receber, num contexto muito particular, o da Revolução do 25 de Abril de 1974.
Como alguns dos leitores referiram, muitas feridas ainda estão abertas, não obstante terem passado mais de 40 anos, e, portanto, é sempre doloroso falar destes assuntos. Outros leitores consideram-no extemporâneo e outros vêem-no importante para quebrar silêncios e tabus.
Este romance que é estudado na cadeira Civilisation du Portugal actuel , num dos cursos da prestigiada Universidade de Sorbonne, para além duma obra de ficção é, como alguns leitores também o disseram, um valioso documento sobre um acontecimento que marcou naturalmente gerações de portugueses e que faz parte das suas memórias individuais.
O jeito de ser gente em Portugal, afinal, decorre de todas as influências vividas e os chamados “retornados” trouxeram nas suas bagagens não só roupas coloridas, mas outras formas de estar, outra cultura que mudou o quotidiano de todos.
Sessão muito participada e que se iniciou com uma leitura encenada de um excerto da obra literária “O Retorno”, interpretada por professores e alunos do “Espaço AGITA – Centro de Artes” (Stª Iria de Azóia).







3 comentários:


  1. Parabéns pela escolha do livro. É um documento histórico. Apesar de “mexer” com muitas emoções, este é um tema que não deve cair em esquecimento e deve passar pelas gerações mais novas.

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  2. Nós não podemos e não devemos esquecer o nosso passado. Faz parte da História de Portugal contemporânea. Debater estes temas na Comunidade de Leitores tem sido muito bom. Deixamos de ver só um lado ou estar somente de um lado.

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  3. Bem dito Maria Rijo ainda bem que fizeste a tua auto crítica publicamente :)

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