Numa 
noite em que nasciam
crianças 
aos milhares
e 
outras morriam sem assistência médica
e 
outras morriam brincando com bombas
e 
outras morriam esmagadas
por 
fugitivos automóveis;
numa 
noite de Inverno,
numa 
noite de névoa
sobre 
os barcos sem equipagem junto ao rio;
numa 
noite de ruas desertas e casas fechadas
aos 
que andavam perdidos e sozinhos,
três 
poetas sentaram-se a uma mesa
e 
decretaram a paz e a alegria
E 
decretaram a paz
para 
os que, cabelos soltos nas mãos das noites frias,
viviam 
na cidade onde agora estavam,
respiravam 
o mesmo ar
e 
liam as mesmas notícias dos jornais.
E 
decretaram a paz
para 
os que tinham
os 
olhos riscados pelos dedos do medo.
E 
decretaram a paz
para 
os que traziam
a 
angústia dos dias misturada no sangue.
E 
decretaram a alegria
para 
as crianças que estavam nascendo em todo o mundo.
E 
decretaram a alegria
para 
as jovens que sentiam os seios despontar.
E 
decretaram a alegria
para 
as mulheres que eram mães.
E 
decretaram a alegria
para 
todos os seres.
Foi 
então que Jesus Cristo
nascido 
há quase mil
novecentos 
e sessenta anos,
sorriu 
no céu que cobria a mesa
onde 
três poetas se tinham sentado
para 
decretar a paz e a alegria.
[António 
Rebordão Navarro]
[Porto, 
1933]

Obrigada pela partilha. Poema intenso e belo. Boas Festas para Ana. beijinho
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