Escritor
português, natural de Lisboa. A mãe morreu quando Sá-Carneiro
tinha apenas dois anos e, em 1894, o pai iniciou uma vida de viagens,
deixando o filho com os avós e uma ama na Quinta da Vitória, em
Camarate. Em 1900, entrou no liceu do Carmo, começando, então, a
escrever poesia. Entretanto, o pai, de regresso dos Estados Unidos,
levou-o a visitar Paris, a Suíça e a Itália. Em 1905 redigiu e
imprimiu O Chinó, jornal satírico da vida escolar, que o pai o
impediu de continuar, por considerar a publicação demasiado
satírica. Em 1907 participou, como ator, numa récita a favor das
vítimas do incêndio da Madalena, e no ano seguinte colaborou, com
pequenos contos, na revista Azulejos. Transferido, em 1909, para o
Liceu Camões, escreveu, em colaboração com Thomaz Cabreira Júnior
(que viria a suicidar-se no ano seguinte), a peça Amizade.
Impressionado com a morte do amigo, dedicou-lhe o poema A Um Suicida,
1911.
Matriculou-se
na Faculdade de Direito de Coimbra em 1911, mas não chegou sequer a
concluir o ano. Iniciou, entretanto, a sua amizade com Fernando
Pessoa e seguiu para Paris, com o objetivo de estudar Direito na
Sorbonne. Na capital francesa dedicou-se sobretudo à vida de boémia
dos cafés e salas de espetáculo, onde conviveu com Santa-Rita
Pintor e escreveu, de parceria com António Ponce de Leão, em 1913,
a peça Alma. Em 1914, publicou A Confissão de Lúcio (novela) e
Dispersão (poesia). No ano seguinte, durante uma passagem por
Lisboa, começou, conjuntamente com os seus amigos, em especial
Fernando Pessoa, a projetar a revista literária que se viria a
publicar com o nome de Orpheu. Nesse mesmo ano, o pai partiu para a
então cidade de Lourenço Marques e Sá-Carneiro voltou para Paris,
regressando novamente a Portugal, com passagem por Barcelona, após a
declaração da guerra.
Depois
de algum tempo passado na Quinta da Vitória, voltou a Lisboa, onde
conviveu com outros literatos nos cafés, alguns dos quais membros do
grupo ligado à revista Orpheu, cujo primeiro número, saído em
Abril de 1915 e imediatamente esgotado, provocou enorme escândalo no
meio cultural português. No final do mesmo mês, publicou Céu em
Fogo. Em Julho desse ano saiu o Orpheu 2 e, pouco depois, Sá-Carneiro
regressou a Paris, de onde escreveu a Fernando Pessoa comunicando a
decisão do pai de não subsidiar o número 3 da revista.
Agravaram-se, por esta altura, as crises sentimentais e financeiras
do poeta (já por várias vezes tinha escrito a Fernando Pessoa
comunicando o seu suicídio). Sá-Carneiro suicidou-se, com vários
frascos de estricnina, a 26 de Abril de 1916, num hotel de Paris,
suicídio esse
descrito por José Araújo, que Mário Sá-Carneiro
chamara para testemunhar a sua morte. Deixou a Fernando Pessoa a
indicação de publicar a obra que dele houvesse, onde, quando e como
melhor lhe parecesse.
Como
escritor, Mário de Sá-Carneiro demonstra, na fase inicial da sua
obra, influências do decadentismo e até do saudosismo, numa
estética do vago, do complexo e do metafísico. Aderiu
posteriormente às correntes de vanguarda do paúlismo, do
sensacionismo e do intersecionismo, apresentadas por Fernando Pessoa.
O delírio e a confusão dos sentidos, marcas da sua personalidade,
sensível ao ponto da alucinação, com reflexos numa imagística
exuberante, definem a sua egolatria, uma procura de exprimir o
inconsciente e a dispersão do eu no mundo. Este narcisismo,
frustrada a satisfação das suas carências, levou-o a um sentimento
de abandono e a uma poesia autosarcástica, expressa em poemas como
Serradura, Aqueloutro ou Fim, revendo-se o poeta na imagem de um
menino inútil e desajeitado, como em Caranguejola. A sua crise de
personalidade, que se traduziu no frenesim da experiência sensorial
e no desejo do extravagante, foi a da inadequação e da solidão, da
incapacidade de viver e de sentir o que desejava (veja-se o poema
Quase), que o levou a uma tentativa de dissolução do ser, consumada
na morte.
Sem comentários:
Enviar um comentário